Pois bem, o Clipper entrou no foco como o melhoraizer do momento. Como nós temos essa mania de procurar entender bem as coisas em vez de simplesmente “go with the flow”, vamos dar uma investigada no que conseguimos com essa ferramenta em comparação com um limiter bem usado, analisando as vantagens de um e outro.
-Entendendo o Clipper
Antes de mais nada, vamos entender bem as diferenças entre uma ferramenta e outra. O Clipper , como já expliquei aqui, embora altere a faixa dinâmica, não é um compressor ou um limiter, pois não tem parâmetros que envolvem tempo. Quando a amplitude da onda aumenta, se a saída chega no topo, ele simplesmente corta a cabeça da onda. Vamos ver algumas ilustrações. Na primeira temos a onda original, sem o clipper:
Agora vamos usar o clipper para ganhar volume sem nos importarmos com a forma da onda:
Bom, ganhamos volume, mas a que custo? Primeiro vamos ver como era a resposta em frequência antes do clipper:
Como era de se esperar, antes não tínhamos nenhuma distorção; uma senoide perfeita. Vamos ver o que o uso do clipper nesse exemplo resultou:
Todos essas componentes de frequência que aparecem são resultado da distorção provocada simplesmente por termos cortado as cabeças da senoide. Em resumo, ganhamos volume mas o som mudou.
Um dos meios de atenuar o problema é usar o Soft Clipper, que em vez de simplesmente cortar as pontas, dá uma arredondada nas bordas.
O volume ficou o mesmo, só que agora temos muito menos distorção - so que ela é ainda bem alta:
OBS - nesse ponto algumas pessoas argumentam que essa é uma "distorção do bem". Bom, distorção é sempre distorção. Quem vai dizer se ela é benéfica artisticamente somos nós. Às vezes distorção é tudo o que se queria, às vezes é tudo o que atrapalha.
- Entendendo o Limiter
O Limiter, ao contrário do Clipper, já se enquadra na categoria de compressores, pois sua atuação envolve parâmetros de tempo. Ele leva um tempo para reagir a um volume alto (attack) e leva um tempo para deixar de reagir (release).
Só que muitos limiters usam um "golpe baixo" que o ajuda a conseguir aumentos expressivos de volume independente dessa resposta - o Look Ahead. Eles atrasam o sinal de propósito e aí têm tempo de investigar o que acontece mais adiante, e assim conseguem responder muito rapidamente. Vamos ver,
Repare que conseguimos o mesmo ganho que no clipper, sem uma alteração substancial na forma de onda, usando um lookahead de apenas 2ms. Vamos ver qual a distorção provocada?
Nitidamente vemos muito menos distorção. Se a gente reparar o valor da THD+N, vamos ver que temos o mesmo resultado que no clipper. A diferença fundamental é que nesse caso em vez de termos harmônicos bem definidos e altos, a distorção se espalhou por infinitas componentes com amplitude mais baixa, o que é muito menos audível e mais amistoso a nossos ouvidos.
- Qual a Diferença Sonora?
Isso tudo é muito evidente nos gráficos mas precisamos ver como é a diferença sonora.
Aqui temos um caso real de um Kick de Boombap. No canal de cima, temos o som original. No canal do meio, o que acontece quando usamos um clipper e no canal de baixo temos o resultado usando um limiter.
O que podemos observar? Ao aplicar o clipper, ganhamos loudness, e ao mesmo tempo introduzimos uma quantidade substancial de distorção, que aparece como um reforço na parte média/média alta do timbre original, e somente no momento em que ocorrem os picos.
Isso pode acabar resolvendo dois problemas: vai fornecer mais loudness e pode acabar fazendo o kick aparecer mais na mix, porque essa parte média costuma "cortar" (se destacar) melhor na mix.
O problema é que a parte grave do som e a ressonância ficam prejudicadas na comparação com a parte média. Ganhamos volume e perdemos peso. Mas muitas vezes isso resolve um kick que estava sumido na mix, é verdade, e um clipper pode ser bem fácil de ajustar.
Ao aplicar o limiter, tivemos muito menos distorção, sendo muito mais fieis ao som original, conseguimos ouvir mais a parte grave e também houve um aumento na ressonância. Tudo com o mesmo loudness. O que pode acontecer é que se o kick não despontava na mix, ele pode continuar não aparecendo, mesmo com mais volume, principalmente se ele conflitar com o baixo.
A ressonância , que diminuiu no clipper, veio mais, aumentando a duração aparente do kick. Isso pode ser bom ou ruim, dependendo da mix.
Na figura abaixo temos o ajuste que usei para conseguir esse resultado no limiter:
(repare o lookahead em 1ms - o que é fundamental para se conseguir baixa distorção).
- Qual dos Dois É Melhor?
Tudo vai depender do que se deseja. Muitas vezes o clipper acaba sendo uma opção atraente porque dá muito menos trabalho pra ajustar, aumenta o volume e faz um canal problemático aparecer na mix. O problema é que com isso introduz alta distorção e aumenta a parte média/alta do som (que muitas vezes a gente tinha escolhido com tanto cuidado). Já o limiter dá mais trabalho pra ajustar, mas costuma ser mais fiel ao timbre original , gera menos distorção e costuma trazer os graves para frente.
É uma questão de se avaliar o que funciona melhor.
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