top of page
Foto do escritorFabio Henriques

Como Funcionam os Alargadores de Estéreo? Parte1

Processadores de M/S


Existem dois tipos básicos de alargadores de imagem estéreo. O primeiro que veremos é o que altera a proporção entre as componentes M e S do sinal. Para entender seu funcionamento precisamos primeiro definir bem o que são essas duas componentes. Na próxima parte, veremos o outro método, que é também muito utilizado.


Mid/Sides Não é Mid/Sides


Do ponto de vista de uma mixagem ou masterização, a nomenclatura Mid/Sides é totalmente equivocada. Ela é herdada do ambiente de gravação, e do posicionamento de microfones. Na verdade as informações a que chamamos M e S são na verdade:


M = L + R

S = L - R


Ou seja, o mais correto seria chamarmos de componentes de soma e subtração e não Mid/Sides. Mas o que na prática significam essa soma e subtração? No âmago da coisa, é exatamente isso. Quando a gente vai fazer um plugin decodificador de M/S, pegamos o valor do sample do lado direito (R) e somamos com o valor do sample do lado esquerdo (L). Metade desse valor a gente manda pra saída direita e metade pra esquerda.

Ou seja, essa componente M representa toda a parcela do sinal que está igual dos dois lados. Vamos ver como funciona a coisa. Nessa figura temos duas ondas exatamente iguais com amplitude -9dB e frequência de 1kHz, abertas 100% no estéreo.

Passamos pelo processador, deixando apenas a componente Mid:


O resultado é igual às ondas originais, embora não tenhamos colocado nada no centro do pan. Como nossos ouvidos entendem duas coisas que estão iguais em L e R como estando no centro, M não é o que ESTÁ no centro, mas o que SOA no centro.



Ok, vamos agora mandar essas duas ondas iguais apenas para o R, 100%. O que acontece no M ?

Sim, por incrível que pareça nós mandamos toda a informação para um lado e ela continuou igual dos dois lados, após passar pelo processador M/S. E apesar de estranho, faz sentido, se olharmos para a fórmula do cálculo de M. Como M = L+R, a gente tem o dobro da amplitude jogado para R somados com zero do L, e como dissemos, mandamos metade pra cada lado, ou seja, fica tudo igual.


Mas na verdade nem tudo fica igual não. Vejamos como o S é calculado: tomamos a subtração do sample em L pelo sample em R. E agora enviamos metade desse valor para o L e a outra metade - com o sinal trocado - para o R.

Tudo é feito para que se somarmos os dois lados de S tenhamos zero. Daí essa invertida no sinal.


Vamos ver o que acontece se ouvirmos apenas a componente S lá no primeiro caso, de duas ondas idênticas abertas 100% no estéreo:


Como era de se esperar, com ondas iguais, a subtração entre elas dá zero.

Porém se formos para o segundo caso, quando jogamos as duas ondas para o lado R, veja o que acontece com S:


Agora, como o lado L vale zero, se obedecermos à formula S= L - R, teremos S de um lado valendo o mesmo que R e do outro lado a mesma amplitude, com o sinal trocado.


Ou seja, quando pegamos uma informação mono de um lado só no estéreo, temos como resultado as componentes M e S ao mesmo tempo, apesar de não termos nada no centro do pan.


Em um caso menos esquisito e mais comum, teríamos duas ondas de frequências diferentes abertas 100% no estéreo. O resultado é que existem componentes M e S , como se pode ver abaixo:




Então Qual a Utilidade?


Obviamente, a informação em uma mixagem ou master não se parece em nada com o que vimos até agora. Na vida real temos um conjunto complexo de frequências que se somam e subtraem elas mesmas, e um processador M/S vai eventualmente fazer é apenas separá-las para nos permitir manipular o estéreo aparente.

O segredo está em nossos ouvidos. Nós entendemos como vindo do centro algo que está vindo por igual dos dois lados. E, ao contrário, para entendermos que uma coisa vem mais de um lado do que de outro nós usamos duas informações - a intensidade e o tempo de chegada a cada ouvido. Algo que chega mais alto a um dos ouvidos nós entendemos que está daquele lado. E algo que chega antes a um lado nos faz perceber que essa é a direção da fonte sonora. Em tese, uma coisa colocada a 90 graus de nosso nariz estará exatamente de frente para um dos ouvidos, e exatamente de costas para o outro. É justamente isso o que o canal S está simulando.


Quando uma informação possui apenas o canal S e nada no M, significa que os dois lados possuem a mesma intensidade e se encontrarm em oposição de fase ( pela fórmula, se R = - L, temos S = L - (-L) = 2L ).


Nós então podemos trabalhar essa proporção entre M e S para trabalhar a largura do panorama geral de uma mixagem.


Quando aumentamos a parcela M, toda a mix parece soar mais ao centro, quando aumentamos a parcela S, a mix parece mais aberta no estéreo. Essa é uma maneira bem interessante de se conseguir um panorama maior de uma mix que esteja soando muito fechada, e vice-versa.


É preciso um certo cuidado, porém. Pelos casos extremos que vimos lá em cima, uma mix cheia de coisas colocadas no centro irá soar muito no centro, mesmo que a gente aumente muito a parcela S. Afinal, não adianta aumentar o que não existe. Da mesma forma, diminuir o M de uma mix pode resultar numa carência de centro, e em cancelamentos prejudiciais se a mix for ouvida em mono (no falante de um celular ou em uma caixinha bluetooth, por exemplo).


"A principal desvantagem de um spreader que use M/S é que apesar dele aumentar a largura percebida, não funciona para as componentes mono do sinal. O que está só no centro vai continuar só no centro."

Se bem usados, os processadores de M/S podem ajudar numa masterização por exemplo a conseguir aumentarmos o volume da voz, que normalmente está no centro, bastando aumentarmos as médias e/ou a compressão em M. Ou abaixarmos um contrabaixo que esteja exagerado, diminuindo-se os graves de M. De qualquer forma, esse tipo de recurso é mais útil quando não se pode voltar na mix. Afinal, com a mix aberta bastaria abaixar o volume do canal de voz.


Exemplos de plugins que podem ser usados nesse tipo de processamento: Voxengo MSED (free) , Waves Center, além dos vários compressores que possuem a capacidade de comprimir M e S, como as emulações do Fairchild e o Elysia Alpha Compressor.






OBS: no caso do Fairchild 670, a componente M é chamada LATERAL e a componente S é chamada VERTICAL. Isso porque ele costumava ser usado no corte das matrizes de LPs, e em um vinil, o movimento da agulha para os lados é controlado pela componente M, e o movimento para cima e para baixo é controlado pela componente S. Esse é o motivo pelo qual não se deve enviar informação forte nos graves com oposição de fase para um corte de vinil, porque isso pode fazer a agulha de corte saltar do sulco.



175 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page