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Foto do escritorFabio Henriques

LISSAJOUS: Desvendando os Summing Amps?


Todo mundo já viu pelo menos um filme de ficção científica onde tem pelo menos uma tela com umas figuras bem interessantes como essa aí de cima girando. Elas dão mesmo um aspecto de "alta tecnologia" a qualquer imagem. Mas na verdade elas são geradas de modo muito simples.


Aqui vamos investigar não só o que elas são e como aparecem, mas como podem ser usadas de maneira útil em nossas mixagens e masters.


Só Um Pouquinho de Base


Essas figuras levam o nome de um dos físicos que as investigaram no século XIX, Jules Lissajous (pronuncia-se lissajú ), e elas são produzidas quando aplicamos duas ondas diferentes, uma no eixo x e outra no eixo y. No caso aí de cima são duas senoides de frequências diferentes.


Em Áudio


Obviamente no áudio nós temos dois "eixos" no lugar de x e y: o canal esquerdo (L) e o canal direito (R).


Para usar as figuras de Lissajous então , montamos um gráfico que mostra a relação entre o que acontece no canal direito e esquerdo. Nos casos de física em geral, temos o eixo x na horizontal e o eixo y na vertical.


No áudio, para as coisas ficarem mais práticas, nós inclinamos o gráfico, deixando o eixo x inclinado a 45 graus e o y a 135 graus. Já vamos ver a vantagem disso.


Aqui usamos o plugin Insight, da iZotope, colocado como último plugin no canal Master:



Nesse tipo de medidor, se temos uma informação só do lado esquerdo, teremos uma linha apenas onde está indicado em azul (o equivalente ao eixo y) , e se temos apenas o canal direito falando, a linha ficará apenas sobre a linha amarela (equivalente ao eixo x).


E se tivermos os dois canais exatamente iguais? Ou seja, se a informação for perfeitamente mono?


Aí o resultado é esse:




Exatamente uma linha vertical. Daí o motivo de termos girado o gráfico. Agora, tudo o que for mono, ficará vertical. Consequentemente tudo o que estiver com diferença de fase de 180 graus (fase oposta), aparecerá na horizontal.


Como Fica no Mundo Real?


Se observarmos o que acontece com uma música , teremos algo mais ou menos assim:




Repare que a informação não está apenas em uma linha, ocupando uma área mais larga, o que significa que não é só mono. A parte que não está exatamente na linha vertical é justamente a informação estéreo. Porém a gente pode notar que mesmo abrindo para os lados, a informação é predominantemente vertical. Isso é um bom sinal. Significa que a mix tem uma boa coerência de fase. Ela usa o panorama estéreo, mas se ouvida em mono, ainda irá preservar a informação que a gente quer transmitir.


Vamos ver agora o que acontece quando temos um som de teclado onde um dos lados estava com o cabo soldado invertido , e por isso está fora de fase com o outro:




Agora a informação está estéreo, porém ela é predominantemente horizontal, o que implica que há problemas de fase. Como resultado, ao ser ouvido em mono o som desse teclado terá perdas.


Nem Um Nem Outro


Alguns instrumentos gravados em estéreo, como violões e principalmente piano acústico, podem apresentar figuras muito complexas, que a gente nem consegue definir se estão mais horizontais ou verticais. Isso é totalmente normal, e faz parte da riqueza do timbre do instrumento. Num caso desses, nada como o nosso velho ouvido. A gente coloca em mono e observa se o som está sendo prejudicado.


Porém no caso de uma mix/master, se a figura não estiver bem vertical, pode ser indício de problemas sérios de fase. Então vale uma boa verificada no que pode estar acontecendo.


Chegamos no Summing Amp


Uma das coisas que ouço muito de suposta vantagem de alguns summing amps analógicos (e eventualmente suas imitações digitais) é de que eles "ampliam o estéreo".


Bom, a função básica de um Summing Amp é simplesmente somar sinais. Mas e esse negócio de "dar uma personalidade" ? Isso é só uma frase bonita e estilosa pra dizer que na verdade ele distorce e provoca diferenças de fase.


Isso nem sempre é ruim (e nem sempre é bom). Distorcer aumenta a resposta em frequência nos agudos, e as diferenças de fase entre L e R provocam a sensação de estéreo mais aberto (é assim que os simuladores de estéreo funcionam). Lembrando que as diferenças de fase vêm de o lado L estar provocando um atraso de tempo em relação ao R. O problema é que isso é uma característica embutida no circuito de hardware, e a coisa tem que calhar de ser boa em 100% dos casos. E isso nem sempre é verdade.


Como Identificar Diferenças de Fase em um Summing?


Agora as nossas figuras de Lissajous vêm finalmente ajudar. Para fazer o teste, entre no summing em dois canais com EXATAMENTE a mesma senoide, e monitore a saída com um medidor como o Insight. Se o summing não está provocando diferenças de fase, você vai obter na saída uma linha vertical - o que acontece quando o sinal é 100% mono.


E se eu obtiver outra figura? Vamos fazer alguns testes. Vou tocar em L uma senoide de 1kHz e em R a mesma senoide atrasada e ver o que acontece.


Primeiro, a senoide de cima está indo para o canal esquerda , e a de baixo para a direita, com uma diferença de fase de 90 graus (nesse caso, equivale a 11 samples ou 0,250 milissegundos - um valor bem fácil de acontecer em um circuito analógico)



A figura de Lissajous para duas senoides com diferença de fase de 90 graus é um círculo e não mais uma linha reta!


Vamos ver o que acontece se a diferença é de 45 graus:


Agora temos uma elipse vertical.


Se temos uma elipse como essa, só que horizontal, a diferença de fase está na casa dos 135 graus.




Quando É Bom e Quando é Ruim?


Agora nós descobrimos um jeito de avaliar se o nosso summing amp está introduzindo diferenças de tempo entre L e R . Colocou uma senoide igual em L e R e na saída não deu uma linha vertical, tem diferença. Mas isso é bom ou ruim? Depende.


Certamente essa diferença vai aumentar a sensação de estéreo. Cabe a nós ouvindo concluir se isso ajudou ou atrapalhou. Há um certo risco aqui: muita coisa que soa melhor por causa do aumento do estéreo pode soar prejudicada ouvindo em mono, ou pode provocar uma sensação desagradável nos fones , onde o centro sai de dentro da cabeça.


O fato é que se a gente decide que com diferença de fase é bom, se colocarmos um instrumento no centro do pan, como um bumbo, caixa ou baixo, ele nunca soará no centro nesse caso. O centro se dilui para os lados, o que pode ser um problema na definição da master. Como sempre, é ouvir e decidir.


Como Corrigir?


Ok, eu descobri que meu summing defasa, e eu adoro ele , então se eu quiser corrigir isso, como eu faço? Simples, grave o resultado do summing na daw e atrase ou adiante um dos lados até que a elipse fique o mais próximo possível de uma linha. O problema é que provavelmente metade do que fazia esse summing atraente você acabou de cancelar. Resta a distorção harmônica.


P.S. - para quem ficou curioso em como se obtém aquela figura lá do início, que não é nem uma linha, nem uma elipse, nem um círculo, aquilo é o que acontece quando temos duas senoides de frequências diferentes , uma no L e outra no R. Veja o que acontece se em vez da mesma senoide eu coloco 500 Hz de um lado e 300 Hz do outro:


Que é exatamente a figura lá de cima. Experimente com outros valores. É bem interessante!!!



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