top of page
Foto do escritorFabio Henriques

POR QUE UM LOW FILTER AUMENTA O VOLUME?

Faça a seguinte experiência: pegue uma música masterizada e passe por um filtro passa-altas em 50Hz. Repare o que acontece no volume da saída.


Todo mundo aqui a essa altura já sabe o que faz um filtro passa-altas. Muita gente conhece com o nome de High-Pass ou Low Filter, e certamente todo mundo já usou. Mas o que nem todos podem ter percebido é que muitas vezes a gente coloca um filtro desses em um track e o volume aumenta.

Para demonstrar, peguei um sinal complexo, um ruído rosa. Coloquei um filtro passa-altas e observe que o volume de pico aumentou bastante. Veja a figura:


Nela, passei um ruído rosa por um filtro de 6dB/8va em 50 Hz. Repare que o volume de pico subiu de -10dBFS para -5.6dBFS. Isso pode ser particularmente catastrófico em masterização. A gente passa aquele filtro em 27Hz por segurança e ganha uma saturação digital de presente. E esse problema acontece frequentemente.


Antes de complicarmos nossa vida, porém, vamos ver o que acontece com um comportado sinal senoidal de 50Hz passando nesse filtro. Como todo mundo sabe, a frequência de corte é onde o sinal está sendo atenuado em 3dB , e como vemos abaixo, é exatamente isso o que acontece.



Porém, raramente nossos áudios serão muito parecidos com senoides puras, exceto talvez os kicks de 808. Nossa informação é bem mais complexa. Então, precisamos analisar de um modo um pouco mais real.


Antes que os mais afoitos culpem a tecnologia digital, preciso avisar que isso acontece com TODOS os filtros, principalmente os analógicos. E isso tem a ver com a própria função dos filtros. Para exemplificar bem, vamos usar uma onda quadrada, variando a sua frequência e observando a saída do filtro. Lembre que a onda quadrada possui infinitos harmônicos.

Primeiro uma frequência fundamental abaixo do ponto de corte do filtro – 25Hz:



Repare que quando existe o salto (descontinuidade) de uma parte positiva para negativa, a saída do filtro tenta acompanhar, e logo depois , como era de se esperar, atenua o sinal. O valor de pico salta para -3.8 dB, embora o valor RMS caia (o que era de se esperar , já que a frequência fundamental deve ser filtrada).


Vejamos agora para a frequência de corte do filtro – 50Hz:



E agora vamos ver uma frequência um pouco acima do corte – 100Hz:



E finalmente uma frequência muito acima do corte, 500Hz:



Que conclusões podemos tirar disso tudo?

  1. A resposta que sai de um filtro passa-altas (analógico ou digital) não é exatamente como a gente imagina para sinais complexos.

  2. Mesmo em uma frequência abaixo do corte, a forma de onda na saída pode atingir picos bastante altos.

  3. Mesmo para frequências fundamentais bem acima do corte, numa região onde teoricamente não há alteração de ganho, ainda assim o filtro provoca uma alteração na forma de onda do sinal, embora essa alteração seja progressivamente menor à medida que nos afastamos da frequência de corte.

  4. Esse “problema” pode até ser responsável por melhorar o som de um kick, pois seu ataque fica mais alto.

  5. É preciso ficarmos atentos para esse fenômeno, principalmente em masterizações, pois o nível do sinal será afetado pelo filtro.

  6. Essa característica não é um defeito dos passa-altas; faz parte de sua sonoridade, e , francamente, temos vivido felizes até agora sem saber desse fenômeno.


RESUMINDO: Vai usar um Low Filter? Olho no volume de saída do equalizador!


Apêndice para os cascudos:

Fiquei devendo a explicação da causa desse fenômeno. Pois bem, vamos ver isso de um modo bem simples, usando um filtro RC de primeira ordem. Vin é o sinal de entrada, Vo a saída e Vc a tensão no capacitor. Vamos usar um sinal de entrada na forma de onda quadrada. (a imagem é do ótimo site https://www.electronics-tutorials.ws)


Imaginando que o capacitor está descarregado e chega a parte positiva da onda, nesse momento, como a Vc é 0, a tensão Vi se reflete toda na saída, Vo. Ou seja, temos aquele pico inicial. O capacitor começa a se carregar, e com isso Vo vai caindo e Vc vai aumentando. Até que, se for dado tempo suficiente (frequência de entrada baixa), a tensão no capacitor Vc=Vi e Vo cai a zero. Aí chega a hora em que Vi muda instantaneamente de polaridade. Agora a tensão Vo salta para -2Vi, porque a entrada se soma à tensão no capacitor, que agora vai se carregar com a polaridade oposta. Isso dá o pico negativo. O oposto vai acontecer no próximo momento de transição.

Quando a frequência de entrada é muito abaixo da frequência de corte, o circuito se comporta como um diferenciador (Vo=R.C.dVi/dt). A derivada de uma constante é zero, mas o circuito precisa do tempo de carga para responder. Para comprovar, podemos entrar em nosso equalizador lá em cima com uma onda triangular. A derivada de uma onda triangular no caso ideal é uma onda quadrada. Vamos ver?


Repare que como se trata de uma filtragem, tivemos que dar bastante ganho na saída do equalizador. Novamente, a onda não é uma quadrada perfeita por causa do tempo de carga.

588 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 comentario


Silvio Bitzki
Silvio Bitzki
18 mar 2022

Como seguirei vivendo feliz, agora que tomei conhecimento desse fenômeno? Falando sério, assunto bastante complexo... São as "maravilhas" do mundo do áudio!

Me gusta
bottom of page