Está aí uma das crenças mais difundidas no mundo do áudio. Só que ela não tem absolutamente nenhuma base. É claro que existem regras. O que não existe é a obrigação de cumpri-las.
Como já dizia alguém há uns 20 séculos: eu posso tudo, mas nem tudo me convém 😊 .
O áudio de que tratamos aqui é basicamente voltado à música, e quer coisa mais cheia de regras que a música? A própria notação musical é um ótimo exemplo. É claro que sempre existem jeitos de burlar as regras, e a fuga criativa delas costuma ser muito bem-vinda, se usada com esperteza.
Na verdade só existe uma condição necessária para se burlar uma regra: a regra precisa existir para ser burlada.
O protocolo MIDI vem funcionando há mais de 40 anos porque apesar de ser um conjunto bem específico de regras, tem a possibilidade de burlá-las com as mensagens SYSEX.
Experimente entregar o áudio de um vídeo para broadcast com loudness acima de -23 pra você ver. Por mais que sua veia artística clame por -8, ele vai voltar.
Analisando nesse contexto o áudio é cheio de regras, que estão lá não para obrigar a gente a usá-las, mas para facilitar a nossa vida. Seguir regras é uma decisão fácil. Ir contra elas é que dá trabalho.
É o caso das mixagens que vêm com bula. O cara coloca o lado direito 10 dB acima do lado esquerdo. O masterizador alerta para o problema e ele explica que é um conceito, e manda uma longa explicação a respeito. Aí a música vai ter que ser acompanhada dessa bula avisando ao ouvinte que seu fone esquerdo não está com problema: é o conceito.
Se sua mix precisa de explicação, provavelmente não está boa.
Regra: se você captar com dois microfones lado a lado, com um deles alguns centímetros para trás, vai ter um forte cancelamento nas médias. Mas você capta assim e o som fica como vc quer. Por que não usar? Use, mas lembre da regra se em outra ocasião isso for um problema.
A regra não está lá para limitar , mas para alertar que na próxima vez pode não dar certo.
Quando uma pessoa pergunta, por exemplo, qual o volume que deve colocar o canal de bumbo pra mix dar certo no final, ela não está querendo uma regra: está querendo um Método. E isso é muito diferente. As pessoas podem usar métodos totalmente diferentes e chegar a bons resultados. Tem um monte de caminhos que podem ser seguidos. O que não podemos é confundir opções de método com regras.
Áudio tem um monte de regras, e pensando bem, “não há regras” em si já é uma delas.
Como diria Paco de Pelúcia : “Yo no creo em las reglas, pero que las hay, las hay.”
Eu adoro esses Posts do Fábio Henriques, ele escreve muito bem.
A grande regra do mundo do áudio (e de todos os demais mundos) são duas: conhecimento e experimentação... Elucide-se o máximo possível, mas também experimente, ponha em prática os conceitos e as teorias.